Entrevista com Mafalda Minnozzi - Por: Cynthia Blink
Se você é brasileiro provavelmente já cantarolou uma música interpretada por Mafalda Minnozzi, mesmo que não consiga ligar o nome a pessoa. Se não a conhece, é bom incluí-l ao seu repertório. E se já acompanha o trabalho da artista, conheça nesta entrevista uma Mafalda além da cantora italiana.
Em meio à movimentada montagem do cenário, dos equipamentos, das luzes, enfim, neste panorama de preparativos para o show “Il Bianco, Il Rosso, Il Verde” fiz a entrevista com Mafalda Minnozzi. Estávamos no seu habitat: o palco. Um lugar que ela ocupa com maestria, seja como cantora, ou interpretando papeis em peças teatrais, ou apresentando um programa de televisão, e até mesmo como repórter correspondente de um programa de rádio. “Eu tenho a sensação que a cidade ainda não está preparada para esse tipo de evento. Show que tem uma ligação com culturas diferentes. Acho que é um pouco abusado. Estou sendo ousada, não? O que você acha?”, perguntou Mafalda. Logo saindo da função de entrevistada para o de entrevistadora. E eu admiti achar sofisticada a apresentação que trás para Manaus, mas que tudo tem um começo. Assim como ela impulsionou a música italiana no Brasil, estaria impulsionando Manaus para esse tipo de espetáculo. E torci para que sejam mais frequentes!
Retornando as nossas atribuições iniciais, perguntei:-O que é o Brasil para você?
Mafalda Minnozzi: O Brasil está na minha vida, no meu passado, no meu presente e espero que no meu futuro. Este é um País aberto. Aberto para as diversidades e isso vem de longa data, não é de agora e nem de quando eu cheguei aqui. É uma terra que acolheu centenas de povos diferentes, e entre estes o povo italiano. Então, eu estou simplesmente continuando uma história que começou há séculos.
-Que você faz os brasileiros conhecerem mais da Itália não há dúvida, mas como mostra aos italianos o Brasil?
Mafalda Minnozzi: Além de ter o Brasil em mim, em minha musicalidade, meus gestos, em minha extroversão, e demonstrar isso aonde vou. Eu hoje sou repórter para um programa italiano que tem mais de 10 anos de história, a Rádio RAI. É o canal mais importante da rádio nacional italiana. Ela governamental, e além de ter uma finalidade de diversão tem também á finalidade de levar cultura ao povo. Como proporcionar que os italianos saibam mais do resto do mundo. O programa que faço foca o Brasil. E no Brasil tem Mafalda Minnozzi como repórter, todos os domingos eu relato o que eu vejo. Normalmente plataformas culturais, musicais, exposições, filmes, tudo na visão de uma italiana em São Paulo (onde ela mora atualmente).
-Como começou sua parceria com Paul Ricci?
Mafalda Minnozzi: O Brasil é de uma riqueza musical espantosa! Então, olha como é lógico o processo. Um americano que faz jazz em Manhattan, ele se aproxima da música brasileira, porque é riquíssima. E Nós, músicos do exterior só ganhamos estudando um João Gilberto, um Tom Jobim, um Edu Lobo. Então, ele quis juntar a música dele com a dos brasileiros, foi para o Rio de janeiro, aí me encontrou. Vi um produtor musical que sempre gostou de misturar a sonoridade dele com o ecletismo de outras sonoridades, como a africana, a brasileira, iaí deu essa nova parceria. Que depois de 16 anos, continua sendo nova porque estamos trilhando um projeto novo com ele, chamado de ‘Espaguete Jazz’.
- E você é casada com Marco Bisconti, seu empresário. Como é trabalhar junto com o marido?
Mafalda Minnozzi: É muito difícil!
-Difícil? Eu achei que ia dizer que é uma maravilha ter quem ama do lado! (Risos)
Mafalda Minnozzi: Não, não, é horrível! Porque eu sou uma pessoa muito preocupada com a vida do Marco. O ‘caminho’ dele foi sempre de um cientista, ele estudou muito, ele é engenheiro agrônomo, daí ele se especializou em medicina, ele se formou, estudou uma vida inteira é uma pessoa extremamente dedicada e muito introspectiva. Ou seja, o oposto do que exige o ‘show business’. O show business não requer isso, não requer tanto cuidado nas emoções, quem vende show, quem fala de dinheiro, sabe?
Olha, estou falando com você agora como se fosse a minha irmã, que eu não tenho. (Risos). Eu sempre me preocupo, será que ele se sente feliz nesse percurso? Ou ele só faz isso por causa do grande amor que tem por mim. Claro, que para mim como mulher é a coisa mais fantástica do mundo ver ele ali na frente, um homem que cuida de todos os detalhes com o amor de um esposo. Então, de um lado é horrível, porque estou preocupada com a sua realização profissional, e do outro lado existe uma grande felicidade de saber que podemos compartilhar esse percurso.
-Você chegou até mesmo a contraria seus pais ao investir na carreira de cantora. Por que insistir em ser artista, qual o seu objetivo?
Eu busco o encontro com o público. Nem que fossem 10 pessoas, sabe? Para poder colocar uma luz, às vezes, na vida de pessoas que andam muito perdidas. Que não sabem mais se emocionar, que sentem vergonha de demonstrar os próprios sentimentos, que não se encantam mais com uma flor, que não observam o próprio filho crescer, não reconhecem o gosto de fazer um bolo em casa e poder comer com os amigos, a beleza de viver, acordar de manhã e aproveitar o máximo do dia. É isso que eu quero mostrar para as pessoas, mas em forma de música.
Esse é o seu primeiro show aberto ao público de Manaus, qual o ‘sabor’ gostaria de deixar?
Gostaria que Manaus se lembrasse de mim como uma pessoa alegre e muito respeitosa. E gostaria de lembrar todos os manauaras que tem uma floresta aqui do lado, ela está aqui oh, é só cruzar o rio e aproveitar demais de um dos cantos mais preciosos do mundo. Aonde tem a água mais pura, aonde tem a flora mais incrível. Tudo bem que é bom também a gente passear no shopping, navegar na internet. Mas, tem que dar um tempo e aproveitar esse paraíso que está aqui do lado, é preciso preserva-lo e ama-lo.
Um beijo grande a todos vocês, grazie!
Mafalda Minnozzi
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- Protagonizou musicais no teatro e os papéis eram criados especialmente para a cantora, devido a sua voz e interpretação.
- Em 2004, se tornou correspondente no Brasil da "Radio RAI". Toda sexta-feira vai ao ar, na rádio italiana o programa "Brasil" em que a cantora passa novidades culturais do Brasil.
- Participa da trilha sonora do filme "O Casamento de Romei e Julieta" e compôs Gli occhi di Romeo para os protagonistas do longa, Marco Ricca e Luana Piovani.
- Outro filme que teve a participação da cantora na trilha sonora foi "Saneamento Básico: o filme".
- Foi convidada por Martinho da Vila para apresentarem seu dueto no programa Ensaio, da TV Cultura.
- Em 2001, foi condecorada como "Personalidade Brasileira dos 500 anos".
- Em 1998, recebeu o título de "Embaixadora Oficial da Música Italiana no Brasil"
- A cantora convidou para a produção do disco "Controvento" diversos músicos, como o saxofonistas Aaron Heick, o guitarrista Paul Ricci, o mestre Paulo Moura, o violonista Guinga e, no violão, Marcos Teixeira.
